Projeto Cacimba Nova é o novo projeto do artista Thiago Barbalho, que realiza na Casa de Cultura Palácio Poeta Antônio Antídio de Azevedo, em Jardim do Seridó, cidade natal de sua mãe.
A mostra integra a iniciativa “Abril das Artes”, promovida pelo Governo do Estado, por meio da Secretária Extraordinária de Cultura e da Fundação José Augusto (FJA).
São 16 desenhos sobre papel, sendo que alguns foram produzidos em papel artesanal de fibra de bananeira, material que releva o interesse do artista sobre processos artesanais ou manuais.
O desenho, como mídia de predileção de Thiago, é resultado desse processo de trabalho que prioriza aquilo que é “mais acessível, mais barato e disponível para que algo seja construído”, como ele define.
Partindo de um desejo de fortalecer os referenciais visuais de seu lugar de origem no estado do Rio Grande do Norte e, ao mesmo tempo, afirmar a cultura de massa das capitais do NE, a mostra apresenta uma série de desenhos que derivam de formas que podemos associar à natureza do sertão e às pinturas ancestrais feitas nas pedras do sítio arqueológico do Mirador em Lajedo de Soledade, que o artista visitou recentemente.
Escritor e artista visual, Barbalho encontrou no desenho um modo de expressão que suplantou uma crise com a escrita experienciada alguns anos atrás. Em seus desenhos, ele trabalha em diferentes escalas e com diversos materiais.
Em Cacimba Nova o artista apresenta desenhos realizados sobre papel, sendo parte deles feita sobre papel artesanal de fibra de bananeira, material que revela a busca por novos suportes e matérias-primas, além de destacar o interesse do artista sobre processos artesanais e manuais.
Habituado a produzir desenhos em grandes formatos, em Cacimba Nova, deparamo-nos com obras em pequenas dimensões que convidam o observador a uma aproximação, sustentando a relação de intimidade que o desenho evoca. Neles, podemos ver formas orgânicas que evocam paisagens ou personagens sobrenaturais, corpos vegetais ou partes desses primeiros aliadas a uma abundância de diferentes referenciais da cultura de massa contemporânea: desde lojas populares de produtos fabricados na China, imagens de santos, objetos e utensílios diversos, até personagens de desenhos animados. Nas palavras do artista: “Me ver artista com esse referencial me fez retornar ao trabalho artesanal e pensar a ideia de mistura, ao contrário da de pureza”.
Derivada da prolífica produção de desenhos do artista, Futuro, uma obra têxtil em grande escala ocupa um lugar de destaque na exposição. A obra têxtil foi produzida em conjunto com uma associação de costureiras bolivianas no Bom Retiro, em São Paulo, bairro conhecido pela sua história de imigração já secular. A obra foi realizada a partir de uma técnica popular bastante difundida que consiste na ação de fixar retalhos de tecidos dobrados para compor uma peça única, comumente usada para fazer tapetes encontrados facilmente em grandes centros urbanos assim como em feiras de rua do interior.
Em Futuro, a experiência do deslocamento ganha dimensão coletiva. Nele, o artista alia seu processo de criação ao das artesãs-artistas migrantes produzindo a figura do bebê-polvo, imagem recorrente em seus trabalhos e que evoca diretamente o próprio título da exposição.
Cacimba, no Nordeste do Brasil, é um buraco, semelhante a um poço, que se cava “em local baixo e úmido ou em leito seco de rio, onde a água do solo se acumula até atingir um lençol de água subterrâneo, para recolher a água presente no solo que nela se acumula”. Partindo desse elemento tão familiar e, ao mesmo tempo, potente da cultura sertaneja, Barbalho sobrepõe gestos para a criação do desenho dando lugar a uma nova forma em que linhas e cores vão se amalgamando. Como acontece na natureza, o acúmulo de água boa no fundo da cacimba vai se adensando, nutrindo a vida do entorno que produz novas formas para o futuro.